------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

marmarmarmarmarmarma.

A língua de fogo em brasa que eu tinha se esfriou na água em que todos os peixes foram pescados - meu anzol jaz há dias na franja do mar, à espera - mas todos os peixes foram pescados. Por isso pesco meias perdidas sem par, garrafas de plástico com bilhetes ilegíveis de molhados, pedaços de pano esgarçados que nunca hão de secar. Todos os peixes foram pescados para que virassem pedra, eu só queria um, que fosse flor ou veludo, uma mão aberta, um canto de galo na solidão - eu que não pesquei nenhum. Daí mergulho fundo e abro os olhos lá dentro, que queimam no sal que também curam as feridas da navalha afiada que há em mim, dentro da pele. E choro dentro da água pra que ninguém veja e nem eu mesma veja pois menina, a água salgada não é mérito só seu, e então a água salgada entra na água salgada e é como se não houvesse choro meu. o mar é o choro da terra que não significa dor, mas significa ele mesmo mar. O movimento das marés que perigam porque avançam demais ou porque se recolhem demais é a tensão da terra com a lua, e vai que um dia a lua ganha e rouba o mar da terra e você vai nadando com as ondas até em cima, vendo os barcos e as âncoras abandonados lá embaixo porque são pesados demais pra subir. e vai que algum peixe você consegue guardar nas mãos. e vai que. Eu colei com água-viva as mãos numa canoa e fui. estou no ir --- sem baleia* pra me redimir e me fazer voltar.

*aquela do Jonas.

1 Comentários:

Às 11:27 PM , Anonymous Anônimo disse...

de quem mais é o mérito das águas salgadas?

 

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