------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

quinta-feira, julho 31, 2008

releituras

o que sei é do patíbulo esquecido, sinônimo: cadafalso. o esquecimento da pena capital, da condenação, da voz que um dia ecoa em tom de zombaria: c'est finis! a condição de viver, quando não se é eterno; quer dizer: quando se é eterno, simplesmente não se vive, e isso é sem condições. as tristezas travestidas de bonança que ensinam sobre os homens, digo nascer, crescer, reproduzir, morrer. repito do patíbulo esquecido: esses enfiam a morte nos orifícios mais recônditos como um supositório que logo depois se dissolve, digo os já nascidos, crescidos, reproduzidos, mais: dissimulados que fingem não ser os futuros morridos. e a morte-condição é o zumbido no ouvido que incomoda, e os coitados tentam deter, como a dedetização do ambiente contra os vermes, o cheiro de lavanda desconhecendo o solo de cadáveres, os pés que pisam no sangue, a casa ao lado e as flores amarelas do velório; é a consciência nula e torpe do tempo. (henry miller escreveu sobre gostar dos homens que carregam o tempo no sangue, eu admito minha guerra com o tempo e a consciência opaca do duo vida&morte a dançar. oh, claro! isso aqui é auto-referencial!)
o desperdício com cuidados em vão, a placa no metrô: "cuidado! perigo de vida." a frase mais deliciosa e ambígua que li nos últimos tempos, como se a negação do cuidado me jogasse de vez na boca aberta e perigosa da vida. genial. ou talvez eu tenha mesmo me confundido nas minhas operações lógicas e concluído o que me apraz, o que admito não ser difícil (...) mas querem mesmo fingir-não-saber do fim da linha sem saber que assim sacrificam todo o percurso, do mesmo modo como querem negar seus orgãos pulsantes, melados em suas roupas íntimas dentro das igrejas, nos escritórios, nos jantares de família, no calor que aumenta a transpiração e pede água gelada escorrendo na espinha. agora entendo as escusas sobre sexo: é que dizem que todo gozo é uma pequena morte, e não se esqueçam, de morte não querem falar. engraçado como a lista das negações e das vergonhas não cessa, se multiplica, nunca se basta.
(Engraçado como eu, moça delicada, me presto a esse tipo de
denúncia-escrita-emporcalhada numa tarde ensolarada e promissora de verão! Aguardo, pois, a condenação.)

3 Comentários:

Às 8:35 AM , Anonymous Anônimo disse...

Guadalupe, te dou o veredicto da sua condenação: volte a escrever ou me mato.

 
Às 12:05 AM , Anonymous Anônimo disse...

desse modo, acho que será um suicídio coletivo.

 
Às 9:51 AM , Anonymous Anônimo disse...

ai do mundo sem essas denúncias emporcalhadas de moça delicada sob o sol de verão!

 

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