------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

quarta-feira, março 21, 2007

cerúleo

soube que ele vinha do circo e ria sozinho, sempre convulso, às escâncaras. decidi então seguir sinestesicamente o escândalo das suas risadas com uma lanterna e uma navalha escondida na meia 7/8. caminhei pelas ruelas mais recônditas que os olhos de todas as mulheres mais tristes desse mundo, sem me dar conta do círculo que meus passos desenhavam. decidi cavar um buraco no muro, na rocha bruta, um túnel que me desviasse e deixasse entrever o que acontece desse lado-daí-de-lá. decidi passar o anel, e quando o passei, iluminei meu rosto com a lanterna, fiz que sim. o riso parecia longe, e o que eu ouvia, atenta, era a antecipação de um já-ainda-distante. fiz pausa. tomei a água, comi o pão e adormeci entre os buracos do muro. sonhei com uma cabeça de medusa que piscava seu olho direito e me mostrava a língua fazendo graça, antes de se transformar num peixe que se revoluteava no ar e sumia. eis que minha sombra me acordou, limpou-me os olhos, lavou-me os cabelos, e me pôs de pé com a lanterna nas mãos. eu disse adeus com um aceno, enquanto ela fazia um leve movimento de pescoço. despedimo-nos. subi degraus, desci ladeiras, escalei montanhas e o riso era perto, parecia certo. já sentia as cócegas subindo-me ao pescoço, as maçãs do rosto queimando escarlate pela boca entupida de palavras guardadas desde o útero materno. eis que comecei a cantar Hey honey, Take a walk on the wild side And the colored girls say, doo do doo do doo do do doo... eis que ele me aparece e eu disparo a chorarsorrindo por saber que gargalhamos de tão desgraçados, e assim é mesmo tão mais bonito! me banhando em lágrimas hilariantes de um hallelujah azul, solar sem fim sem fim sem fim sem fim sem
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"Na vida quem perde o telhado/Em troca recebe as estrelas/Pra rimar até se afogar/E de soluço em soluço esperar/O sol que sobe na cama/E acende o lençol/Só lhe chamando/Solicitando."

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