------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

terça-feira, maio 29, 2007

notas.

Lá fora era forte o sol, e a paisagem acompanhava os humores dos passantes, era desértica. E ainda fora dessa paisagem descrita, como um homem pintado fora da moldura, ou um rio que deságua fora da tela, estava erguida uma casa de paredes de pedra, uma casa.
.
Do lado de quem vê, o homem toca lá dentro da casa de paredes de pedra. Mas do lado de quem ouve, o homem ultrapassa o dentro e o fora, anula-se. O agudo do violino que matava o homem que tocava, quebrava também os espelhos dos vaidosos, fazia vibrar a ferida ardida no canto das unhas das mulheres, transformando toda dor grave num canto desnecessário. A mulher prepara o café na cozinha e queima as mãos, impassível, procura o açúcar. Como na infância, adoça a ferida fina do canto das suas unhas, e em seguida leva o dedo à boca, molhando-o de saliva. Misturam-se a carne, a saliva, a criança, o açúcar, os agudos. A mulher ensaia um sorriso, com olhos nostálgicos de névoa olha a janela. O homem agora toca sua nuca e ombros. Ela perde a gravidade, trêmula desce ao inferno telúrico de sua última oitava.

3 Comentários:

Às 5:45 PM , Blogger Fefa disse...

eu não consigo explicar direito o que leio aqui.
eu não consigo esquecer o que leio aqui.
eu não consigo decifrar o que sinto aqui.
suspiro~sempre.

 
Às 10:40 PM , Anonymous Anônimo disse...

uau!
estremeci!

 
Às 11:32 PM , Anonymous Anônimo disse...

Fantástico

 

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