------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

segunda-feira, maio 21, 2007

Era uma vez uma senhorita que achava que não ia aprender nada com tudo o que acontecia, e acabou aprendendo tudo do nada. Tudo muda, não é mesmo? "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o Mundo é composto de mudança", e não é que a senhorita conhecia sim alguns versos de Camões de cor! Ah, mas mudam-se as datas, mudam-se as perversões, e as minhas e tuas - ébrias ou não - essas não mudam não não. O sadismo é o mesmo na senhorita ou em Sade, o gosto de sêmen é igual não importa a geografia ou religião. "Que dialética monstruosa!", pensava a senhorita, que não escondia as palavras que não diziam nada senão a vertigem. Vamos nos conhecer melhor, sim? Mas não se esqueça de antes assinar aqui, assim um pouco mais embaixo. Não! Não entenda errado, eu sou um fruto anômalo mesmo, acostumada às folhas que no outono caem sobre o chão. Resignei-me.
Mas na manhã seguinte os olhos da senhorita se puseram tristes como nem pedra nem neve puderam ser tão tristes assim. Fora do mundo e fora das guias, onde estava a senhorita, o prazer é triste um segundo após o gôzo. O desastre ainda corre atrás da senhorita, ela bem sabe. O desastre quer agarrar um braço da senhorita. Um braço e seu grito mudo por dias a fio. E uma mão obscura revolvia, e revolvia e revolvia:
tripas
entranhas
estômago
revolvia tripas entranhas e estômago. Mãos impregnadas por um cheiro que pode ser frio mesmo, mas não, é medo da senhorita. A senhorita tinha medo da senhorita. Um verso satânico, ainda que não haja não haja nada não haja Satã. A senhorita ensaiava cheia de galicismos o dia em que se precipitaria no néant dos franceses, antes que o vento profetizasse alguma glória ou tempestade. Mas a senhorita precisava mesmo de
um verso branco como quem cura o próprio corpo
supura a ferida funda do próprio corpo
costura a veia frágil do próprio corpo
queria uma canção que não terminasse. fogo e música, um amálgama de inferno e paraíso antes da queda e da onerosa... maçã! era uma maçã! mas só uma maçã?
que história patética é essa?
um silogismo de corpos fundidos em notas na pele tão imperfeita de tão humana e ferida gangrenando toda a maledicência. os sorrisos que ela desejava não precisavam de argumentos, a pele não precisa de argumentos para sentir o calafrio ay ay ah que sobe pela espinha e põe a boca doce como frutas maduras. as línguas de lobos que pintavam estepes no ventre da senhorita não tinham filosofias, e a senhorita pensou que as filosofias que lhe meteram doeram e sangraram mais do que outras coisas que meteram nela que, aliás, não doeram nem sangraram coisa alguma. tinha um par de asas para o vôo, porém quando exilada no chão, as asas não queriam deixar que ela andasse. "mas que dialética curiosa!" pensou de novo a senhorita. a senhorita pensou:
no caos
na queda
no éter
no vácuo
no não o não de tudo
o não do nada que é o não absoluto
no frio que deveria ser no nada,
e também no absoluto que na verdade não era nada.
a senhorita pensou no nada a senhorita não aguentava mais o gosto do nada nada nada que lhe traziam as horas. não aguentava mais o gosto do nada de monstro monstruoso monstro que a espelhara e a presenteara com o espelho amorfo da razão que fugia, fugia, fugia, e fugia...
o gosto do nada.
eu não suporto mais
esse gosto de nada

1 Comentários:

Às 8:19 AM , Blogger Fefa disse...

.obrigada.

 

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