diáfana
Ambiesquerda, sinistra completa, canhota das duas mãos, eu aceito o que é congênito. A crítica sem a clínica. Mas o desequilíbrio verbal se trata embaixo da água, ando doente do verbo que me queima ácido a garganta. Transformei palavra em arma de fogo, confesso. Narciso então se afoga e passa a se contemplar num pedaço de espelho dentro do lago. Os peixes aqui me dizem verdades calados. Dizem que a logorréia é o mutismo mais cômodo, são os discípulos de Kierkegaard. Me ensinam do silêncio que não é mudez, mas a nudez mais corajosa; quando as palavras não cabem nas coisas, quando as roupas se encolhem de susto e não vestimos um corpo à força e levianamente, pelo pudor do calar. Tento aprender com os peixes a impudicídia de não ter nota, a virtude da pausa que neles é eterna e sem peso. Aprendo música com os peixes porque aprendo a pausa. É a minha afasia deliberada. Então não pesca palavras de mim, agora não, deixa os peixes no meu aquário, aqui. Deixa a submerssão, o olho fechado. Não me exija, mas segue no meu encalço, o olho abre na água amanhã ou depois. Me deixa reaprender a dizer sem queimar. E só então eu cuspirei um peixe multicor.
1 Comentários:
nossa! mas a senhorita usou muitíssimo bem as palavras aqui!
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