------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

terça-feira, junho 09, 2009

a vida.

para Luckaz.


Sentia-se mais antiga que toda forma humana a vestir-lhe a roupa, mais antiga que todo o caminho dos anos, o percurso dos passos pelas ruas em direção a um fim. Era mais velha que as palavras, mais velha que o próprio verbo que se constitui de nome e tempo. Sentia a ancestralidade em sua própria carne quando queimava de febre, quando se cortava ao descascar a fruta, quando sentia o ódio dos dias ou o amor pelo que não é nada. O amor pelo que não é nada seria o amor pelo mundo inteiro, não por este ou aquele outro. Mas ela ainda era cheia de objetos e predileções, caixinhas de música e pedrinhas escolhidas a dedo para os seus. Disso não abriria mão. Jurava encontrar no sangue que irrompia do dedo espetado pela agulha a antiguidade não datada. Não era a busca pela causa, não era a busca pelo deus e nem por pai e nem por mãe. Mas da origem que perdura atrás dos olhos, pelo que escapa à palavra que se contenta em dizer somente um Este ou Aquele, corria e caía e se sujava no chão atrás da origem que seria aquele resto, aquele buraco fundo que ninguém quer ver, a fresta que faz passar aquele fino feixe, o rasgo, o esquecido, o abandonado, o que não serve pra nada. Queria tudo o que escapa aos planos e é negado pela sua potência de não servir pra nada. De não servir a nada que não seja seu próprio movimento. Potência tão temida, contraída, sempre o outro diminuído pelo mesmo. Recuperar o massacrado, dar voz ao que perdeu o direito ao sentido. O surto, desejava. E é assim, e por isso, o nome que me dei, que me contém não identificada – que não é nome segundo, mas o meu nome mais PRÓPRIO.

1 Comentários:

Às 10:24 PM , Blogger Fefa disse...

1 ano sem escrever? onde vc está?

 

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