memórias

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Hoje atribuo aos cabelos brancos de mamãe, além da vida dissoluta de papai, a sua própria resignação. Aos seus cabelos brancos segue-se o olhar tristemente acostumado, um humor mórbido e ensimesmado. Esses cabelos brancos se multiplicam ao redor de sua cabeça, e eu espero pelo dia em que crescendo até sua cintura, as minhas mãos finas os escovem e façam com eles uma linda e grande trança. E de mim, uma tecelã que cante afinadamente uma canção bonita. Chegará também o dia em que papai e mamãe serão só cabelos, pois estes continuam a crescer mesmo depois da morte, como as unhas. E quanto à mim, que serei uma mulher de coque orgânico e despenteado, temo pelo dia em que sentada lendo algum filósofo estóico, ou mesmo durante o sono, diminua-me o tamanho da vontade, a pletora recolhida pelo tempo. Temo pelo dia em que inevitavelmente vestirei a gravata de papai, resignada e só, como o silêncio brando da cadeira de balanço de mamãe.
1 Comentários:
quero tudo isso marcado no meu corpo...
para ficar em auto relevo nos meus ossos quando morrer...
:)
vc eh linda demais...
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