dos que param de brincar.
Aquele que está na berlinda, segurando-se num pedaço de nuvem que não se ampara em nada, uma nuvem prestes a se desmanchar no ar. Uma nuvem prestes a chover-se, transformar-se em água. Uns não crêem nas próprias asas de cera, que mesmo precárias, sustentam o corpo por entre as nuvens que insistentemente se condensam e se dissolvem. Uns não aceitam as asas de cera, e deliberadamente cortam-nas, se não lhes é permitido planar além das nuvens, se não lhes é permitido escapar à miséria de se sustentar no que é fugaz. E há também o Ícaro, aquele jovem confiante e idealista que finalmente subiu, mas que não suportou o Sol e a tão desejada altura. Por desejar tudo, não lhe sobrou nada. A altura sobrehumana queima. É perigoso desejar o Sol. O que é alto demais. O que é longe demais. Subir demais é perder-se, e quando se atinge o paroxismo de tal feito, é a ironia de retornar o próprio corpo àquilo do que antes se fugia: à terra tão baixa. Consciência não há mais. Por desejar tudo, sobrou-lhe o nada. Por querer o mundo que não cabe dentro de mim, nem de ti. E como saber ao certo a parte que me/te cabe, sem que a gente doa? Como não morrer com o mundo entalado na garganta? Como dosar a vontade de vida? Como saber do perigo do que eu estou vendo?
"Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara."
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