------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

domingo, outubro 14, 2007

sublimação.


Faça de conta que os cortes não passam de pinturas feitas a tinta num dia de festa onde todos só queriam assustar uns aos outros com esses efeitos vermelhos. Faça de conta que esses cortes que denunciam a sua hemofilia não atraem vampiros mas somente borboletas que se lambuzam de néctar, na primavera, verão, outono, inverno...e primavera. Tente esquecer então que não há linha cirúrgica, nem linha-de-pensamento, que não há linha alguma que permita um ponto que promova a união dos tecidos - do corpo, que não é de seda. Faça de conta que arder o corte com a água, arder o corte com a chuva é como sorver um ácido que cauteriza a sua fraqueza, e extirpa num só golpe o teu núcleo necrosado que nunca te faz presente. Ainda de olhos bem abertos a tudo o que acontece externamente, esqueça que esses cortes foram feitos pela baixeza e pela perfídia e eleve-se em pensamento crendo ser estes, estigmas crísticos. Ainda sem embaraço, faça de conta que o sangue que escorre corpo abaixo, em sua roupa limpa & branca retorna à terra, num movimento natural que nutre o solo e torna fértil. Mais uma vez, com os dedos, penetre os locais dos cortes e faça deles (dos dedos) instrumentos de pintura: um painel na parede da sala, um desenho em mesa de bar, um escrito qualquer num papel qualquer. Passe a chamar os cortes de sulcos, pregas, fendas e esqueça das células, da profilaxia, dos curativos. Trate-os como novos orgãos dos sentidos que recebem estímulos. Acostuma-te à incapacidade de supurar & trate de manchar cada canto escuro a que te convidam e permitem entrada.

4 Comentários:

Às 2:36 PM , Anonymous Anônimo disse...

vc escreve com mta intesidade, parece q esta sempre apaixonada! =)
me encanta...
bjo
miti

 
Às 12:58 PM , Blogger Fefa disse...

huhuuuuu

 
Às 8:53 PM , Anonymous Anônimo disse...

sinto a profundidade de sua escrita....algo sensorial mesmo.....vc mobiliza os sentidos com tanta beleza.

 
Às 1:29 AM , Anonymous Anônimo disse...

de cicatrizes, meu corpo já se encontra repleto. nunca é tarde, de fato, para mais uma(s).
contigo,
d.

 

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