cronos
e se eu dissesse do tempo, do quanto ele me pesa os ombros como o céu em Atlas, do quanto ele me rasga as mãos e faz de cada passo meu um contratempo. que é como catar as entrelinhas nas linhas, flores abstratas em um jardim de ossos e concreto [em ruínas], é como desafiar. se eu dissesse do tempo como o sinto, quando vejo seu estrago, tempo é fogo que transmuta e queima a minha casa. não é nada senão isso que chamamos deus, onipresença e onipotência absoluta que devasta. ele passa e não sabe pra onde, confundindo os passos, empurrando, empunhando o sopro. tempo é vento, que carrega o mundo, que apaga seu próprio fogo, é o próprio deus se matando e se nascendo. talvez devesse aceitar o tempo, mas se eu dissesse do tempo, do quanto ele é impiedoso diante da espera, eu abro as mãos libertando-o e ele insiste insiste - me contrariando, em ficar.
a essência do tempo é ser assim, o meu contrário.
2 Comentários:
eu li esses dias que o walter benjamin queria escrever um livro que chamasse em busca dos espaços perdidos. que os espaços perdidos são muito mais importante que o tempo, ele achava.
maravilhoso esse pra mim.
miti
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