problema onto-cardio-lógico.
O gato imaginário que andava pelos cantos da casa com o olhar vesgo, e à noite dormia encolhido entre os joelhos da moça, era o que havia de mais verdadeiro nos seus dias. Ela chegava inclusive a ter alergia dos pêlos desse gato que não tinha. Noite passada, passou acordada tentando resgatá-lo do telhado em que estava preso, até que ele veio andando esguio pelo muro e num salto, entrou pela janela com uma asa de pássaro na boca. Era um gato-quimera, arranhando com doçura seu coração de vidro pintado, que estranhamente estalava. No entanto, a moça rezava firme, daquele jeito apertando os olhos, pra que um dia o gato nascesse da sua costela. É que existindo seria ainda mais pleno, ainda que não tão Belo como quando não-era, mas ela até se lembrou que gostava mesmo das imperfeições, e das arestas do que é, existe e tem. Ela queria que os outros vissem sua roupa suja de pêlos, ela queria o gato ali, ronronando e saltando não só pra ela. Queria a certeza de que não era delírio.
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