"Nem amigo, nem amante, nem sexo ou comuna hão-de abrigar-me o que nem já a escrita – meus fantasmas calados à ilharga do que vos não escrevo a ninguém, todas as histórias de invenção da palavra verá emudecidas e ainda bem. Não há nada mais para expor. É o tempo do não que nem mesmo qualquer mau humor conjunto ou obra boa pode descrescer. É o lugar do avesso e me descoso de tudo nele. É a colheita do joio, ver uma a uma cortadas e trilhadas em molhe as espigas do cereal que imitei, sem nunca ter amado a metáfora, sem provavelmente ter amado nunca o que quer que fosse senão a esquiva, o esquivado de tudo, a entrelinha, a firmemente sinuosa linha, a escorreita água de aço da verdadeira vida, a por debaixo, a que ainda não, que a outra põe ao rubro, sendo a absurda metáfora só o que tão real parece e é dito, todos vivendo com o bom anjo da convicção escarranchado à ombreira do ombro, à ilharga dos gestos, à beira da fala."
Novas cartas portuguesas