------- a coisa-em-mim -------

desaforismos. fábulas sem moral. egotrips. brainstorms.

quinta-feira, novembro 23, 2006

o que cabe.

à galope nas costas de um touro ela cai ferida e o chão se abre, ela cai infinita até o avesso do mundo, se furtando do silêncio com seu grito mudo. o mundo ao avesso que é estrela e lua dentro do corpo, oh sim ela doa todos os seus órgãos pra noite. e o dia escapa por um buraco do seu próprio olho, o dia a olha também, e quando ele pisca é o sono dela. oh sim ela doa sua comida e até sua própria fome aos lobos. vai andando em L, à galope nas costas de um cavalo, no teto xadrêz do mundo. o mundo que é lá dentro a lhe comer o centro --- o centro que é a sobra de tudo o que lhe falta.

domingo, novembro 12, 2006

medida.

frágil feito poeira
eu faço da vida desajustada
uma formiga que caminha milhas
com um grão de açucar
nas costas
desviando dos gigantes,
dos pés mais imperfeitos
por pisarem somente no chão.
faço do meu orgulho
algo desfeito
[a queda do muro
em mim].
e aprendo a ter prelúdio
assim um tanto afoito,
enfim.

Assim falou Estamira

"Tem o controle remoto superior natural, e tem o controle remoto artificial. O controle remoto é uma força quase igual assim, mais ou menos igual à luz, à força elétrica, a eletricidade, sabe. Agora, é o seguinte, no homem, na carne e no sangue tem os nervos. Os nervos da carne sanguínea vem a ser os fios elétrico. Agora, os deuses, que são os cientistas técnico, eles controlam. Ele vê aonde ele conseguiu. Os cientistas, determinados trocadilos, ele consegue. Porque o controle remoto não queima, torce. O cientista tem o medidor que controla. Igual o ferro, o ferro ali. Aquele que tem os número, tem pra lã, tem pra… é… Tão simples, né."

(...)

"Tem o lúcido, daquele que eu escrevi lá. Que o lúcido é isso aqui. Tem o ciente. O ciente é o saber, do qual Jesus não sabe ler, nem escrever, mas ele aprendeu toda coisa de tanto ele ver o lucidar. “A tua lucidez não te deixa ver…”. A inlucidez e a lucidez. A lucideze e a inlucidez. Tá bom. E o sentimento, né? Consciente, lúcido e ciente e tem o sentimento. Tá bom. O que fica pegando a… colhendo, gravando, é o sentimento."

sábado, novembro 11, 2006

imagine all the people.

CENA 1:

um homem conversando com outro, um assunto importantíssimo, muitas coisas a dizer. começam a falar ao mesmo tempo e num gesto cortês, tanto um quanto o outro cede a sua vez -ao outro, quando um; e ao um, quando outro - para que se exprima primeiro. permanecem assim: ambos calados ad infinitum, cedendo.

CENA 2:

duas pessoas andando na rua em sentidos contrários. ambas solipsistas com os olhos no chão, seguindo a mesma linha que era reta ao longo do passeio. se encontram num determinado ponto, e tentando o desembaraço, coincidentemente vão sempre para o mesmo lado, pra lá-pra cá-pra lá, ad infinitum querendo passar.

acúmulo

uma esquina dobrada uma pessoa calada um cadarço desamarrado um gato que cruza correndo o telhado um aperto de mão um disco de blues riscado uma gota de chuva ácida queimando a testa um novelo de lã se transformando em cachecol um pé de meia furado e sem par uma garrafa sem bilhete encontrada no mar uma bailarina que sangra o pé um compasso ternário um caminho sem volta uma nota de 10 pronta pro tiro um choro de criança um livro faltando página um filme sem final uma respiração asmática uma palavra nova uma abelha que pousa no café uma flor que desabrocha uma flor que fenece um orgasmo múltiplo um sorriso sem-graça uma cerveja esquentando no copo. a conta por favor.

olho.

querendo olhar diretamente no olho daquela pessoa que parecia fugir, entrei rápido num taxi e siga aquele carro, disse-lhe. seguimos correndo ultrapassando sinais e provocando acidentes até o final da cidade até o último pedaço de estrada até o último azul daquele céu até quando não havia mais cidade e não havia mais estrada e nem céu havia e nem havia mais carro a ser seguido, e não havia nem quem quisesse seguir coisa alguma e não havia nem quem contasse essa estória e não havia nada não havia nem eu só o olho da pessoa, só que sem pessoa nem nada.